Enquanto o muso baiano da MPB vive recluso no bairro do Leblon há tanto tempo que há quem duvide de sua existência, a atriz carioca aparece em todos os lugares a todo instante. Nos últimos 20 anos, ela teve a vida escancarada em capas de revistas, programas de fofocas e nos corredores da única emissora em que trabalhou, a Rede Globo. Loira de olhos claros, com um corpo mignon e rosto de estrela de filme de Hitchcock, Carolina já foi uma das queridinhas do Brasil. Mas após um episódio envolvendo a trupe de um programa humorístico da emissora concorrente, caiu em desgraça e até hoje tem que responder perguntas sobre sua “famosa chatice”.
Contra as críticas e xingamentos, Carolina diz preferir o fair play do que o revide. Atualmente, atravessa as noites dos brasileiros como a periguete Teodora, na novela Fina Estampa, de Aguinaldo Silva. Aos 33 anos, ela ganhou três quilos de músculos para interpretar uma “maria-tatame”, espécie feminina que tenta caçar seu dote nos ringues de luta. Após alguns golpes frustrados, Teodora começa a mostrar que pode surpreender seus algozes. Na vida real, também tem sido assim: mais forte do que nunca, Carolina fala muito – e rápido. No Twitter, coloca fotos dos filhos e mostra a intimidade para mais de um milhão de seguidores. Na praia, faz a alegria dos paparazzi e se deixa fotografar de biquíni. Quanto mais ela aparece, mais João Gilberto desaparece. Porém, há uma coisa que os conecta e identifica de forma categórica com o espírito de nosso tempo: a vida privada de ambos é tão empolgante, dramática e divertida quanto o ofício que realizam. E, se o roteiro de João Gilberto traz mistério e suspense, o cotidiano de Carolina Dieckmann é uma clássica novela das 9, cheia de empolgantes e irresistíveis clichês.
“Não estou aqui para agradar a todo mundo. Nem para agradar a alguém. Estou aqui para cuidar da minha vida”, ela comenta com calma notável quando nos encontramos em um dos camarins do Projac, centro de produções da Globo em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Sentada atrás de uma mesa redonda, Carolina usa um vestido preto e cutuca os restos de uma salada enquanto espera para gravar suas seis cenas daquele dia e anota os afazeres da próxima semana. O roteiro que tem em mãos é todo coloridinho, como se fosse rabiscado por uma estudante colegial. “O que quero para a minha vida é ter 50 milhões de pessoas assistindo à novela”, ela resume. “É isso que me motiva, e não alguém falar ‘Olha como ela é simpática’.” Logo de cara, Carolina também deixa claro que conversa sem problemas sobre qualquer assunto. “Não vou me defender. Eu não tenho uma necessidade de ficar ponderando as coisas. Sou uma pessoa easygoing. O repórter pode pegar uma coisa e editar do jeito dele. Mas eu não me conserto. Cada um tem a sua consciência, cada um faz o seu trabalho.”
Naquela mesma tarde do início de dezembro, Carolina havia chorado muito por causa do ex-marido, o ator Marcos Frota. Esta seria uma frase solta ideal para um texto de algum tabloide, em que o sensacional vale mais do que o contexto. Explicando: horas antes, Carolina havia assistido, na TV do carro, a um capítulo da reprise da novela Mulheres de Areia, de 1993. Na cena em questão, Tonho da Lua, personagem de Frota, se encontrava em um hospício. “Isso me inspira muito”, Carolina comenta sobre a atuação do ex – eles se separaram em 2003. “Que legal que é interpretar! Eu já vi essa novela uma vez, eu já fui casada com o cara. E eu tô acreditando no Tonho da Lua!” (ela ainda acrescenta que Davi, seu filho de 12 anos com Frota, é “idêntico ao pai”).