O que seria de uma sem a outra? Para suportar a escravidão sexual a que
foram submetidas, Morena e Jéssica criaram um laço de amizade que
comoveu o público em ‘Salve Jorge’. A química entre Nanda Costa e
Carolina Dieckmann fortaleceu a parceria dentro e fora de cena.
“Fizemos com amor, troca e entrega. Acho linda essa relação e a luta
delas para sobreviver e acabar com essa máfia. As pessoas estarem
curtindo se deve a esse comprometimento nosso e, é claro, à história
fantástica da Glória (Perez), que prende a gente”, diz Nanda.
“Nos conhecemos em Paraty, há muitos anos. A amizade da Carol e da
Nanda já existia, mas o sucesso da dupla Jéssica e Morena foi uma
surpresa, sim, e me deixou muito feliz”, completa Carolina. Mas nem
sempre foi assim. No início da trama, a torcida era para que Morena
morresse no lugar de Jéssica. A autora não hesitou em manter a heroína
e, para acabar com a campanha de morte a Nanda Costa, Glória revelou ao
DIA um segredo da sinopse: Morena volta para a Turquia grávida de Theo
(Rodrigo Lombardi) e tem o bebê sequestrado pelo tráfico.
Não é só isso. O drama da mocinha está apenas começando. Amanhã, Morena
perderá sua maior fortaleza. Mesmo com o apelo do povo para que Jéssica
não morra, o destino da traficada já foi traçado pela autora. Para a
história da moradora do Complexo do Alemão continuar, a outra será
sacrificada. Lívia (Claudia Raia) matará Jéssica com uma injeção letal.
Revoltada, Morena culpa Wanda (Totia Meirelles) e lhe dá uma surra.
Depois tem uma visão com a amiga e promete vingança.
“Morena está muito ameaçada e assustada porque o cerco está se
fechando. Russo (Adriano Garib) invadiu a casa dela, se aproximou da
Lucimar (Dira Paes). Ela sabe que a mãe é esquentada e pode botar tudo a
perder. Não consegue contar para a Helô (Giovanna Antonelli). Aí tem o
Theo (Rodrigo Lombardi), amor da vida dela, que está desconfiado, mas
também não pode se abrir com ele. Ela está em uma panela de pressão que
pode explodir a qualquer momento. Essa morte da Jéssica vai ser muito
difícil para a Morena porque ela vai entender ainda mais o risco que ela
e sua família estão correndo. Ela sabe que tem que ter calma para
resolver as coisas, porque com impulso ou raiva tudo pode piorar. As
pessoas imploram para que a Morena não deixe a Jéssica morrer. Me parte o
coração porque isso vai acontecer”, declara a protagonista.
Mesmo conformada com o assassinato, Carolina está sensibilizada com a
sua saída. “Fiquei muito emocionada ao ler o capítulo, porque é o
desfecho de uma personagem que eu amei fazer. Fico arrepiada só de
falar! Eu não poderia imaginar tantas coisas boas, tudo o que aconteceu,
tanto no trabalho quanto em relação ao público. Tomou uma proporção tão
grande que na hora de ler a morte me veio isso à cabeça: e todo mundo
que não quer que ela morra? E os sonhos da Morena, como essa morte vai
ser um baque para ela.
Eu vejo a emoção com que as pessoas me olham nas ruas. O fato de ter
feito tanta cena com a Nanda, as pessoas terem se envolvido tanto, isso
tudo deu uma aquecida. Para mim, é mais comovente a Jéssica morrer agora
do que se ela tivesse morrido no início da novela, porque no capítulo
80 as coisas tomaram uma proporção muito maior”, avalia Dieckmann.
Carolina transformou o que seria uma participação de poucos capítulos
em um dos principais destaques da trama. Convenceu tanto no papel de uma
mulher sofrida e humilhada, que conquistou mais espaço do que o
previsto. “Eu nem tenho palavras para dizer, acho que nunca imaginei que
pudesse acontecer tanto envolvimento dessa personagem com o público.
Fiquei chocada porque desde a primeira semana as pessoas já não queriam
que ela morresse. E no estúdio, já olhavam para mim com uma carinha. O
Adriano (Garib, o vilão Russo) brincou outro dia, dizendo: ‘Como é que
vai ser minha vida sem você?’”, conta a atriz.
Em três meses de novela, a dupla derramou um rio de lágrimas. Haja
técnica para tamanho desespero. “A própria história já traz essa vontade
de chorar, gritar e espernear por tudo que a personagem vive. Fazemos
cenas rindo, chorando e depois rindo de novo. Não tem ordem cronológica
para essas emoções e temos que buscar aquilo em poucos segundos. Não
recorremos a colírio, não. Teve uma cena em que meu choro não vinha e eu
falei: ‘Carol, olha para mim’. Ela estava emocionada, fiquei ali um
minuto olhando para ela e meu choro veio. Juntas nos fortalecemos”,
explica Nanda. “Não sei como a gente conseguiu chorar tanto. Acho que o
tema direciona para isso, é intenso”, comenta Carolina.
Vítimas de agressões físicas, as duas apanharam e bateram, mas garantem
que na hora do ‘ação’ foi tudo ensaiado e que ninguém saiu com
hematomas. “Nunca nos machucamos. A direção toma todo o cuidado para que
isso não aconteça. Tudo é bem coreografado e é melhor que seja assim, é
mais interessante para a cena. Se for um tapa de verdade, por exemplo,
não vai ser com a intensidade que a cena pede. Melhor ir com força
passando com distância do rosto, do que um tapa fraco de verdade”, frisa
Nanda.
O problema é extravasar essa carga emocional. Nanda conta que, às
vezes, sai carregada e bem triste da gravação. “Quando a cena permite,
procuro aliviar e colocar um sorriso, uma esperança, um brilho. Sei que o
tráfico é real e o que me alivia é que o trabalho que estamos fazendo
vai servir para ajudar muitas meninas”, diz ela. “Acho que o corpo sente
uma exaustão porque tem o desgaste físico, normal de uma novela que é
pauleira, mas tem também o desgaste emocional, uma coisa que a gente não
consegue explicar para ninguém o que é. Sentimos aquela emoção toda, e
quando acaba, voltamos tropeçando para casa”, acrescenta Carolina.
O fim da dupla vai deixar saudade não só para o público. “Amei
trabalhar com a Carol. Convivemos tanto que já olhamos e sabemos o que a
outra está pensando. A perda da Jéssica é triste não só para Morena,
mas é para mim também”, assume Nanda Costa.