Entrevista de Carolina Diekcmann para a revista Estilo

De forma involuntária, Carolina Dieckmann cumpriu no ano passado uma promessa feita por muitas revistas: foi vista como nunca antes. Nua ou seminua, em 36 fotos roubadas de seu computador, espalhadas na internet pela mesma pessoa que tentou chantageá-la antes de vazar as imagens. Parece assunto tabu, do tipo constrangedor o suficiente para pensar duas vezes antes de comentar sobre isso com ela - a moça tem fama de brava, afinal de contas. Que nada. Carolina fala rindo da nudez, que não considera problemática. Claro, dirige sua ira a quem cometeu o crime. Aliás, crime mesmo: em 3 de dezembro passado, a presidente Dilma Rousseff sancionou uma alteração no Código Penal criando a Lei Carolina Dieckmann. Desde então, quem invadir dispositivos eletrônicos como celulares e notebooks pode ser punido com multa e penas de três meses a dois anos de prisão.

Apesar desse solavanco, a atriz considera que o intenso ano de 2012 foi positivo. No que diz respeito ao trabalho, por exemplo, faz sentido. Convidada pela autora Glória Perez para uma participação em Salve Jorge, da Rede Globo, conquistou o público com a sofrida Jéssica, moça batalhadora que cai nas garras de uma quadrilha de traficantes de mulheres e é forçada a se prostituir na Europa. Suas aparições seguravam a audiência da novela, tanto que a personagem teve sua participação esticada - originalmente, morreria no capítulo 18, mas foi crescendo, crescendo... E, até o fechamento desta edição, continuava vivinha da Silva, apesar de ela mesma dar como certa sua saída da trama.

Não existe assunto de que Carolina se esquive, ainda que às vezes a resposta seja um pouco curta, o que pode explicar a impressão que algumas pessoas têm de que ela é antipática. Mas não é, não. Bem gente boa, articulada, inteligente, a atriz é apenas bastante objetiva. Coisas de quem aprendeu a dar entrevista cedo - ela tem 34 anos e está no olho do furacão da fama desde os 15, em 1993, quando estreou na série Sex Appeal. O Brasil a viu crescer, casar-se com o ator Marcos Frota e ter o filho mais velho, David, hoje com 13 anos. Acompanhou sua separação, a nova união com o diretor de televisão (e paixão da adolescência) Tiago Worcman, que resultou em José, seu caçula de 5 anos. Isso tudo intercalado com papéis fortes, como a Camila, de Laços de Família, que fez com que a atriz raspasse o cabelo no horário nobre devido a um câncer da personagem. É curioso conversar com uma pessoa que parece tão íntima, mas não é.

Você certamente nunca imaginou que um dia viraria nome de lei.
Mas também nunca pensei que alguém iria roubar fotos pessoais do meu computador.

A criação dessa lei faz você sentir que o desfecho do caso foi justo?
Não pelo nome, mas por ela agora existir. É muito bom quando acontece uma coisa ruim e você tem a possibilidade de transformar aquilo em algo positivo. Injustiça seria ficar desamparada, sem possibilidade de impedir que o crime aconteça novamente.

O que gostaria que perguntassem a você e nunca perguntaram?
Sabe que andam me perguntado muito isso ultimamente?

Oops!
Pois é, né... Fico sempre pensando no que responder. Acho que vou fazer uma listinha de coisas que gostaria que me perguntassem para gastar ao longo de 2013.

Então vamos a algo que com certeza já perguntaram: você se preocupa com a imagem que as pessoas têm de você?
Acho que é do ser humano, do amadurecimento, ir dando menos importância a isso. Como comecei a dar entrevista muito jovem, já me preocupei verdadeiramente. Hoje em dia nem tanto. Não é que não ligue de maneira alguma. Volta e meia, me vejo preocupada em desmentir algo. Significa que, em algum lugar, eu me importo. Odeio mentira a ponto de nunca ter dito para meus filhos que Papai Noel existe. Mas não me incomodo com o que a pessoa acha se aquilo for verdade. Como sou uma pessoa pública e tem muita gente falando loucuras a meu respeito, fico incomodada com o que não é verdadeiro.

Alguma dessas loucuras magoou você?
Ah, um pouco, depois vai passando. Mas na hora você fica um pouco revoltada sim. Geralmente são coisas bobas, como dizerem que colocaram uma dublê no meu lugar em uma cena que fui eu mesma que fiz. Não gosto do fato de a pessoa ter poder de inventar qualquer coisa a meu respeito e eu não conseguir me defender. Ninguém tem o direito de simplesmente inventar algo sobre o outro.

Mas isso parece mais ligado a alguns setores da mídia. E sobre a percepção que o público tem de você ser antipática ou arrogante?
Não vejo isso do público. É algo que escuto muito mais de repórter em entrevista. Não me lembro de alguém me dizer isso na rua. Pode ser que achem, mas nunca falaram.

Você se acha antipática?
Nem um pouco.

Que avaliação faz de 2012?
Foi um ano muito intenso, mas bastante cansativo. No trabalho, na vida pessoal... Aconteceu tanta coisa que parece que passou uma década.

Você é a mãe que queria ser?
Sou. Mas isso não significa que eu esteja acertando. Quer dizer que estou sendo uma mãe de verdade. Amo profundamente meus filhos e tento acertar todo dia. Quero torná-los seres humanos capazes de sobreviver nesse mundo cão e de se defender sozinhos. Isso é muito verdadeiro em mim. Não sei o que era tão verdadeiro em mim antes. Minha vida faz sentido a partir do dia em que o David nasceu. Esperei ser mãe para conseguir fazer sentido da minha própria vida.

Que importância a moda tem para você?
Não é algo sobre o que penso, leio... Por exemplo, não sou fã de ir a desfile. Mas gosto do lado fresco da moda. De ser divertido e, ao mesmo tempo, leve, estético.

Tem preferência por alguma peça em especial?
Gosto muito de bolsa.

Compra bastante?
Em 2012, não comprei nenhuma. Mas posso voltar de uma viagem com quatro e querer ter o mesmo modelo de várias cores. Antes de começar a moda da Goyard no Brasil, eu já usava a minha, laranja, para ir à praia, sendo que nem é uma bolsa criada com essa finalidade. Mas uso tanto... Combina comigo.

Daí questionaram você por usar uma bolsa de R$ 4 mil para ir à praia.
Vi sentido nela na praia porque não suja, não tem ferragem, aguenta maresia, é resistente. Não vai me deixar na mão, cabe baldinho, tudo dos meus filhos. Qual é o problema? Tem quem compre coisas caras e use muito menos.

Aí entra a questão do custo benefício. De calcular se a quantidade de vezes que você vai usar aquela peça compensa o preço pago por ela.
Pelo tanto que já usei essa bolsa, custou menos de 1 real por vez.

Você faz muito esse cálculo na hora das compras?
Só faço. A (stylist) Manu Carvalho me ensinou isso quando eu devia ter uns 18 anos e é a conta que faço.

Dá para dizer que você tem uma coleção de bolsas?
Tenho o que talvez as pessoas considerem uma coleção, sim. Dez Chanel, daquela 2.55, que comprei ao longo da vida e não me desfaço. Não é uma coisa que está lá intacta, peça de museu. Eu uso mesmo. Também tenho umas 15 Balenciagas de modelos diferentes. De vez em quando, empresto para alguma personagem.

É vaidosa, do tipo que passa mil cremes?
Não, só um filtro solar. Sou bem relax.

Qual é seu estilo?
Relax. Gosto de me sentir bem. Às vezes, isso quer dizer hippie e, em outras, perua, moleque ou skatista.

Qual é a coisa mais chata do mundo?
Isso nunca ninguém me perguntou.

Bingo!
A coisa mais chata do mundo... (pensativa) Acho que injustiça. Essa pergunta é muito louca. Responde aí você.

Lavar louça.
Ah, nem pensar. Tem um monte de coisas piores... Isso acho até legal para pensar, tipo terapia. Acho chato não poder ir à praia porque o mar está sujo.

Esse exemplo faz você parecer idealista. É isso mesmo?
Acho que todo mundo tem que fazer algo para melhorar o mundo, mas não no sentido de passeata. Lembro na época da escola a galera matando aula para ir à manifestação dos caras-pintadas. Eu não. Desde pequena, tenho isso de não ir com o bando. A gente só muda o mundo e melhora as coisas de dentro para fora.

Nas pequenas coisa ao seu redor...
Quando vou à praia e tem lixo em volta de onde estou, eu cato. E fico pensando que, se uma única pessoa não tivesse jogado aquilo ali, seria diferente. Não é apenas a sujeira de todo mundo. É a de cada um.

Você não queria matar aula. Era boa aluna?
Não queria matar aula para ir à passeata. Mas, para ficar em casa, adorava.

Como fez para se formar na escola, já que começou a trabalhar tão cedo?
Repeti o primeiro ano científico por falta. Aí terminei por correspondência. Mandavam os capítulos e eu tinha de fazer minhas provas.

Sente falta de não ter feito faculdade?
Quando o Niemeyer morreu, fiquei triste ao lembrar que já quis ser arquiteta. Acho que um dia vou ser, se viver 100 anos como ele. Ou talvez tivesse sido advogada.

Enxerga um lado social no seu trabalho?
Súper. Enxergo e acredito. O que passei com a Camila reverbera na minha vida até hoje. Agora a Jéssica: o que me convenceu foi a oportunidade de abrir os olhos do mundo para o que acontece. Esse é o lado incrível de ter um holofote sobre você.

Faz dieta?
Quando preciso, tipo quando engordei 30 kg na minha última gestação. Agora, para a Jéssica, fechei a boca porque queria dar uma fragilidade a ela.

E malhação, faz algo?
Atualmente, não, porque no ano passado ganhei muita massa muscular para interpretar a Teodora, de Fina Estampa. Como eu queria ficar mais frágil agora, precisei parar de malhar.

O que mudou para você depois dos 30?
Tinha acabado de emagrecer 30 quilos quando fiz 30 anos. Foi a melhor coisa da minha vida. Hoje sou muito mais feliz e meu corpo está muito melhor.

Tem cabelo branco?
Não sei. Em geral, em que parte da cabeça aparece mais cabelo branco? Acho que não tenho, não.

O que a deixa de mau humor?
Fome.

O que gosta de comer?
Farofa de ovo com banana, caldo de feijão com paio em cima, pizza de alcachofra e chocolate.

Seu marido cozinha, certo? O que ele prepara que você mais gosta?
Ceviche.

Tem religião?
O bem.

E o costume de rezar?
Sei as orações católicas, mas acho que rezar é mais aquele momento seu do que a fala que você diz.

Seu marido é judeu. Você educa seus filhos como meio católicos, meio judeus?
É, mas agora que você perguntou não sei se o David sabe rezar pai-nosso, por exemplo. Eu não ensinei. Isso na minha cabeça é muito livre. Ele fala que vai ser judeu. Não come porco, aliás. Mas foi batizado na Igreja Católica.

Aceitaria um convite para posar nua?
Acho que, se um dia me der a louca e eu quiser ficar pelada e todo mundo quiser ver, mais uma vez, eu faço. (risos) Basta ter uma vontade, uma verdade. Ainda que tenha dito em algum momento que nunca faria. Isso vale para tudo. Posso garantir que jamais comerei jiló porque odeio, mas, se me der vontade, eu vou comer.

Você consegue falar sobre suas fotos nuas dando risada. Pelo visto é algo que leva numa boa.
Amor, eu dou tanta risada disso. Já dei tanta gargalhada com esse assunto. A nudez nunca foi problemática para mim. Mas, sim, o crime. Tentarem me chantagear com uma coisa que me pertencia, depois espalhar pela rede inteira e me fazer passar pelas coisas que passei. As fotos em si nunca me tiraram o sono.

Até porque, com todo o respeito, você está de parabéns.
Amor, foram fotos que escolhi para mostrar para o meu marido. Alguém escolhe foto de si mesma baranga? Se eu precisasse, passava um Photoshop.

Não existem fotos suas barangas, vai.
Sei lá, né? Eu nunca tirei porque também só tiro foto minha quando acho que estou bem. Vai ver se tem foto minha com 30 kg a mais lá em casa. Só no Google, eu encalhada na praia e o Tiago me puxando, que nem uma baleia orca. Qual foto você acha que eu prefiro que as pessoas vejam?

Quem é mais ciumento: ele ou você?
Eu, mil vezes. Tenho um temperamento mais ciumento. Faço piada com isso porque os defeitos servem para a gente rir da gente.

É ciumenta a ponto de pegar o celular dele para olhar ou, no máximo, dá aquela olhada para a tela quando ele recebe mensagem?
Pegar o celular nunca. Mas, se ele estiver do meu lado e receber mensagem... Peraí, também não sou santa, né?

O que mais gosta no seu corpo?
A minha barriga. E tem muito a ver com o fato de ela ter me dado dois filhos perfeitos e lindos e ter voltado para o lugar intacta de forma miraculosa. Uma parte do meu corpo pela qual sempre preciso agradecer.

Mas você batalhou para isso.
Tem gente que não teve filho e não tem a barriga que tenho, apesar de batalhar muito mais. Minha barriga voltou ao que era antes.

De que parte do seu corpo o Tiago mais gosta?
Ele nunca me falou. Era para ter falado? Vou cobrar. Mas também não sei de que parte do corpo dele eu gosto mais.

Deve ser porque você gosta dele inteiro.
Melhor assim.. Então só espero que ele goste de mim inteira também!

Tem medo de um dia não ser tão bonita quanto hoje?
Medo? Tenho certeza de que não vou ser. Mas, olha, me acho bem mais bonita do que quando tinha 20 anos.











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