— Adoro que alguém fale o que eu tenho que fazer, que os outros mandem — diz Carolina, que encurtou os cabelos neste ensaio com um truque do maquiador Ton Reis, posando como uma versão 2013 de Debbie Harry, líder da banda Blondie no fim do anos 70 e início dos 80, e ícone punk que inspirou Madonna.
Por essas e outras, ela não tem a menor vontade de produzir. Nem de dirigir. Em tempos de uma geração de atrizes que cantam, dançam e sapateiam para realizar projetos no palco e na TV, como Mariana Ximenes, Leandra Leal e Maria Flor, a postura de Carolina soa até fora de moda. Gosta de atuar, e só. Estudar o texto, elaborar o personagem e interpretar. Orgulha-se de ser contratada da TV Globo há duas décadas. Ao ser questionada se ela se considera uma funcionária padrão, é categórica: “Acho, não. Eu sou”.
No ar como Iolanda, a heroína pobre que se casou com o milionário interpretado por José de Abreu para salvar o pai, mas que ama Domingos Montagner, Carolina anda apaixonada — este é o verbo usado por ela — pela diretora Amora Mautner. A dobradinha vai tão bem que Carolina ganhou nota 10 da Patricia Kogut esta semana.
— Vejo que a Carolina está entrando na segunda fase da carreira. Está mais visceral, aproveitando o santo que baixa nela quando atua — avalia Amora. — Ela domina a técnica da interpretação, mas tem o ouro do ator: consegue sentir, mais que interpretar, e tem verdade na atuação. Nunca a vi tão orgânica.
Dividindo-se entre o Projac e o apartamento em São Conrado, a atriz tem se virado nos 30 para dar conta de algumas tarefas em casa, antes tocadas pelo marido. Thiago assumiu há pouco mais de dois meses a vice-presidência de programação da nova MTV, passando a morar em São Paulo de segunda a sexta. Desde então, ela diz, sua vida virou de cabeça para baixo porque Thiago também era o dono da casa: cuidava do cardápio, da feira orgânica, do dever de casa dos meninos e de botar o caçula para dormir.
— A casa sempre funcionou sob as ordens do Thiago, principalmente quando eu estava fazendo novela. Eu era uma madame. Estou um pouco assustada — confessa Carolina, que delegou o cardápio para a empregada, Ana, e contratou uma professora particular para os filhos. — Botar o José para dormir virou uma prioridade para mim — diz a atriz, mãe de Davi, de 14 anos (filho do casamento de Marcos Frota), e de José, de 6.
Ela está às voltas com as obras da nova casa, também em São Conrado. E avisa que mesmo que não estivesse no ar, não se mudaria do Rio por conta do trabalho do marido:
— Não moraria em São Paulo. Sou muito carioca. Vou para o trabalho dirigindo o carro. Contemplo a paisagem, abro o teto solar e procuro pegar o maior trecho possível de praia no caminho. Não sou daquelas que tem motorista e fica grudada no celular no banco de trás, isso é a coisa mais paulista que existe.
Seu programa favorito no fim de semana é ficar em casa. Confessa-se preguiçosa. E avisa: “Eu tenho energia, mas prefiro gastá-la assim”. Entenda assim por inércia. Ela prefere ver um filme na TV com os filhos a jogar bola com eles num parque. Gosta mais de ficar estirada tomando sol do que praticar esportes ao ar livre. Escolhe ficar na cama até mais tarde a acordar cedo para levar Thiago à rampa de asa-delta.
Aliás, depois de elogiar o marido algumas dezenas de vezes, ela conta que esta é uma “questão”. Thiago reclama que Carolina não o leva para praticar asa-delta, como as outras mulheres de voadores.
— Sempre digo: “Você tinha que ser casado com a Cynthia Howlett. Seu timing é parecido com o dela, não com o meu”. Acho o esporte perigoso. O máximo que faço é dar um tchauzinho e tirar uma foto dele quando estou tomando sol, e ele passa voando e apita.
Neste Festival do Rio, após uma carreira de 20 anos, ela estreou seu terceiro filme, “Entre nós”, de Paulo Morelli. Ela sempre se ocupou mais da TV, sem se preocupar em trilhar uma carreira tão intensa quanto no teatro e no cinema:
— Não acho que o meio possa diminuir, ou não, uma atriz. Na TV, você mergulha num projeto por um ano. No cinema, por três meses. Qualquer novela exige muito mais de mim.
Em janeiro, ela estreia mais um longa-metragem, “Julio sumiu”, de Roberto Berliner.
— Ela é intratável. Brincadeira! — diverte-se Berliner, para em seguida rasgar elogios à atriz. — Ela foi muito disponível na construção da personagem, que tem esta beleza estonteante dela, e soube dar o tom vulgar, que era necessário, sem medo.
A beleza é citada também pela melhor amiga, a atriz Maria Ribeiro. As duas se conheceram há 17 anos em “Confissões de adolescente”.
— A Carol é solar — conta Maria, que também está no elenco de “Entre nós”. — Ela é uma mulher muito bonita, mas que não está presa à beleza, tem atitude, é franca, não faz pose e é espontânea, para o bem ou para o mal, no sentido de que não liga para o que pensam.
Maria lembra uma frase de Domingos de Oliveira para definir a BFF:
— Ele dizia: ‘A Carol é uma força da natureza, como a Vera Fischer.